quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Excertos de pensamentos

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Só consigo ser eu mesmo quando não preciso disso. Quando a minha companhia é tão natural quanto a minha solidão. Quando me sinto à prova, escondo-me debaixo de uma carapaça de medo, angústia e pânico controlado. Tento parecer o mais natural possível enquanto o outro pensa que estou nu. O engano dele é apenas um efeito colateral.

Nunca gostei de fazer perguntas. É por isso que tenho todas as respostas e me contento com elas quando seria muito mais saudável para mim questioná-las.

A consciência das trevas não me ajuda a libertar-me delas. Afinal, por que haveria de sair do seu conforto?

(...)

domingo, 18 de outubro de 2009

Sonhos

Sonhos...

Não há nada que atormente ou delicie mais uma pessoa neste mundo do que os sonhos... Se forem maus, o nosso sono é infectado por imagens e sons perturbadores que nos parecem tão reais, tão assustadoramente reais, que o nosso despertar do sonho para a realidade acontece ainda com o tremor do que afinal não era mais que uma partida da mente... E o mesmo se pode dizer dos sonhos bons, com a diferença, claro está, de conteúdo: imagens muito mais agradáveis, sons muito mais agradáveis, esboços de uma realidade feliz que poderá nunca vir a ser concretizada...
E o despertar? Bem, quem disse que não tem de ser com o mesmo tremor, com os mesmos suores do pesadelo? A meu ver, a experiência pode ser ainda pior, tendo em conta que custa muito mais perceber que tudo não passou de uma doce ilusão, enquanto o despertar do pesadelo nos traz alívio e descanso.

Há algumas noites atrás, passei pela terrível experiência do pesadelo. Daqueles pesadelos da manhã, que nos fazem acordar mais cedo do que o desejado. Mas eis que, na noite seguinte, a minha mente decidiu presentear-me com o analgésico de um sonho que me apareceu tão bom e saboroso, tão avassalador e irresístivel, que em momento algum o considerei como um sonho.
Mas o pior foi quando acordei... Era manhã, tal como um dia antes o fôra. Mas, tal como disse, de um sonho bom não se desperta aliviado... Senti-me, em vez disso, tão triste, tão impotente, tão convencido de que aquele sonho nunca se tornaria realidade, que o tal pesadelo bem que me poderia poluir o sono uma semana inteira, que nunca me desferiria um golpe tão duro quanto o daquele despertar.


Agora, guardo a memória de algo bom que sei que não é real. Haverá algo mais cruel do que isso?

domingo, 23 de agosto de 2009

Ceremony

Sou um grande fã dos Joy Division, banda pós-punk inglesa que esteve em actividade entre 1976 e 1980, ano da morte do seu vocalista, Ian Curtis. Contudo, há ainda algumas músicas deles, lançadas fora da esfera dos seus dois álbuns, que eu desconheço. É de uma das últimas a que tive acesso, “Ceremony”, que trata este post.
Mas por que razão decidi escrever sobre esta canção em particular? Bem, basicamente, tal se deve ao facto de me encontrar positivamente “agarrado” a essa que considero ser uma pérola musical.
Infelizmente, só existem dois registos de “Ceremony”: uma gravação de um ensaio e outra retirada do último concerto da banda, a 2 de Maio de 1980, no High Hall da Universidade de Birmingham. A qualidade dos registos, contudo, deixa muito a desejar, pois a voz de Ian Curtis apresenta-se abafada, sendo muito difícil perceber o que é cantado. Ainda assim, é possível, na versão ao vivo (que inicia já com a canção em curso), ouvi-lo cantar, quase gritar, com uma fúria apaixonada, “Oh, I’ll break them all”, despertando-nos da doce sonolência que o excelente instrumental, sobreposto ao tristemente destruído registo vocal, nos tinha induzido.
Para além destas versões, existem duas dos New Order, banda formada pelos três membros restantes dos Joy Division e na qual o guitarrista Bernard Sumner assumiu o papel de vocalista.

Aqui deixo, então, dois vídeos com versões da “Ceremony”. A primeira é a tal do concerto; a segunda é a primeira que os New Order gravaram (a segunda já contaria com a Gillian Gilbert).





sexta-feira, 10 de abril de 2009

Fuga

Pego nos meus pensamentos e meto-os na máquina de lavar.
Passam do papel para um bom banho.
No papel não eram nada. Eram apenas palavras soltas sem nenhum interesse em fazerem qualquer nexo. O que acaba por não importar; fazem jus aos pensamentos que expressam. Os trambolhões, a confusão, o "non-sense" das lascas mentais estão ali na folha para ninguém ler. Ninguém os deve ler. Eles só lá estão porque escaparam, porque tinham de escapar. Não precisam de ter significado. E ainda bem, pois o seu destino é o desaparecimento, quando o papel é amarrotado e jogado no lixo.
Enquanto isso, na mente, o cenário é bem mais bonito e auspicioso: os pensamentos rebolam uns sobre os outros no seu banho, talvez para dele saírem com capacidade para serem reutilizados.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Nada

Hum... Uma tarde sem nada para fazer, com uma preguiça do caraças, a ouvir musiquinha...

sexta-feira, 20 de março de 2009

Carrossel

Noite.

Ele pontapeia o contentor repetidas vezes. Uma após outra, mas com pouca convicção. De seguida, vagueia de mãos coladas à cabeça, como se tentasse impedi-la de explodir. Depressa se volta a deter no contentor, agitando-o com golpes cada vez mais fracos.

Ela só tem olhos para o vazio. Caminha a passos curtos, nem sequer se preocupando em fingir que não tem rumo. A mochila nas suas costas não consegue armazenar tudo o que lhe surge na mente e que rapidamente se transforma em pó, apenas para dar lugar a novos lampejos.

Cruzam os olhares. Agilmente os descruzam. Dois mundos que não se tocam. Dois mundos do mesmo universo.

No banco de jardim, dois jovens sentados. Não falam. Não se movem. Os seus olhos rolam freneticamente, tentando acelerar o vagaroso carrossel que gira em seu redor. Não tardará a parar.

Parou.

Fecham os olhos. É deles a próxima volta.



terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Escravos da mente

Pouca importância se dá à mente, hoje em dia. O ser humano prefere tentar aperfeiçoar o seu corpo e valorizar a beleza física dos outros. Não que nisso haja algum mal; simplesmente deveríamos parar para pensar na importância da mente e reflectir sobre os aspectos mentais que influenciam o nosso dia-a-dia. Confuso/a? Passo a explicar.
Muitas vezes, as dores mentais ultrapassam a agonia das suas homólogas físicas. De facto, quem não prefere ter um seu dedo mindinho do pé dorido devido a um embate contra um móvel a sofrer de um desgosto de amor (só para dar um exemplo)? Já para não falar da tortura psicológica… Para além disso, é inegável que a perda da sanidade mental é um medo que ninguém pode afirmar que não tem, e que as doenças psicológicas podem ter claras repercussões negativas no estado físico de quem as alberga. No entanto, apesar de tudo isto, o que me levou a escrever este texto foi a capacidade que a mente tem de impedir ou dificultar certas acções do corpo; aquilo a que posso chamar de bloqueios mentais.
Os bloqueios mentais, para mim, são os pequenos problemas que nos surgem como grandes, e que resultam de timidez, de falta de confiança, de baixa auto-estima, ou, ainda, de falta de coragem. Consistem, no fundo, na incapacidade de tomar certas acções no momento certo, de recorrer às palavras certas no momento mais apropriado, no temor (infundado) de fazer um pedido…
No fundo, esta incapacidade traduz-se numa prisão em que nos enclausuramos a nós próprios, por não sermos capazes de dar o passo em frente que se impõe. É como se o nosso corpo se paralisasse como consequência de uma primeira paralisia da mente. E é nestes momentos que percebemos que de nada importa se somos gordos, magros, musculados ou flácidos; na nossa mente está a chave de tudo, e, se não soubermos ultrapassar os obstáculos que a nós próprios colocamos, então não seremos capazes de evoluir.