Sonhos...
Não há nada que atormente ou delicie mais uma pessoa neste mundo do que os sonhos... Se forem maus, o nosso sono é infectado por imagens e sons perturbadores que nos parecem tão reais, tão assustadoramente reais, que o nosso despertar do sonho para a realidade acontece ainda com o tremor do que afinal não era mais que uma partida da mente... E o mesmo se pode dizer dos sonhos bons, com a diferença, claro está, de conteúdo: imagens muito mais agradáveis, sons muito mais agradáveis, esboços de uma realidade feliz que poderá nunca vir a ser concretizada...
E o despertar? Bem, quem disse que não tem de ser com o mesmo tremor, com os mesmos suores do pesadelo? A meu ver, a experiência pode ser ainda pior, tendo em conta que custa muito mais perceber que tudo não passou de uma doce ilusão, enquanto o despertar do pesadelo nos traz alívio e descanso.
Há algumas noites atrás, passei pela terrível experiência do pesadelo. Daqueles pesadelos da manhã, que nos fazem acordar mais cedo do que o desejado. Mas eis que, na noite seguinte, a minha mente decidiu presentear-me com o analgésico de um sonho que me apareceu tão bom e saboroso, tão avassalador e irresístivel, que em momento algum o considerei como um sonho.
Mas o pior foi quando acordei... Era manhã, tal como um dia antes o fôra. Mas, tal como disse, de um sonho bom não se desperta aliviado... Senti-me, em vez disso, tão triste, tão impotente, tão convencido de que aquele sonho nunca se tornaria realidade, que o tal pesadelo bem que me poderia poluir o sono uma semana inteira, que nunca me desferiria um golpe tão duro quanto o daquele despertar.
Agora, guardo a memória de algo bom que sei que não é real. Haverá algo mais cruel do que isso?